06 de Junho, 2018
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Febre do leite - como prevenir e tratar
A febre do leite, também chamada de paresia puerperal, paresia das parturientes, febre vitular e síndrome da vaca caída.
O QUE É?
A febre do leite, também chamada de paresia puerperal, paresia das parturientes, febre vitular e síndrome da vaca caída é uma doença metabólica que acomete principalmente vacas de média e alta produção. Essa afecção é causada por hipocalcemia (queda de cálcio sérico) aguda e na maioria dos casos está associada com o parto e o início da fase de lactação. Geralmente ocorre 24h antes até 72h após o parto, mas pode acontecer durante todo o período lactante. A maior incidência ocorre em animais que já estão na terceira e quarta lactação.
FISIOPATOGÊNIA
A febre do leite ocorre quando há uma queda abrupta de cálcio sérico no organismo da vaca, desencadeando uma série de sintomas associados a hipocalcemia.
O cálcio é um mineral essencial para o organismo. Além de ser um elemento formador do esqueleto e dos dentes, possui importância fisiológica na condução dos impulsos nervosos, no controle dos batimentos cardíacos, nas contrações musculares, na coagulação sanguínea e na ativação e estabilização de enzimas.
A deficiência de cálcio no periparto acontece devido à grande necessidade abrupta do mineral para a produção do colostro e do leite, junto com a incapacidade de suprir essa demanda, uma vez que as exigências do cálcio na lactação têm maior importância fisiológica para o animal que as da gestação. O organismo da vaca está programado fisiologicamente para priorizar a produção de leite, e assim garantir a sobrevivência da cria. Ao longo da gestação, outros fatores também contribuem para desencadeamento da deficiência, como o baixo consumo na dieta e a transição de cálcio do organismo da mãe para o feto para o processo de crescimento.
Quando os níveis séricos do mineral começam a diminuir, há a ativação de mecanismos reguladores, como paratormônio, que retira o mineral dos ossos e transfere para a corrente sanguínea. Esse mecanismo é suficiente para repor o cálcio sérico em situações normais, porém quando a demanda do mineral aumenta no periparto e no início da lactação, ocorre uma queda abrupta dos níveis de cálcio no sangue, não havendo tempo suficiente para ação do paratormônio, levando o animal ao quadro de hipocalcemia.
É importante destacar que a maioria das vacas, independentemente de apresentarem ou não sintomas, tem uma fase de hipocalcemia associada a parição, mas apenas as que apresentam sintomas severos apresentam a febre do leite. Vacas com febre do leite possuem maior propensão a outros problemas no pós-parto, como deslocamento do abomaso, retenção de placenta, cetose e principalmente mastite. Além disso, ainda podem apresentar redução da fertilidade por conta do prolongamento do anestro após o trabalho de parto.
SINAIS CLÍNICOS
No início da doença as vacas apresentam anorexia, evitam andar e apresentam tremores musculares nos membros e na cabeça. Posteriormente podem apresentar inquietação, rangimento dos dentes e rigidez das patas traseiras. É comum que o animal manifeste temperatura retal anormal por conta da perda gradual da capacidade de controlar a temperatura central.
Com a rigidez dos membros o animal apresenta dificuldades de permanecer em estação, caindo facilmente e permanecendo deitado com a evolução do caso.
O fato da vaca permanecer deitada pode gerar novas complicações, como diminuição do estado de consciência e torcicolo. Além disso, alterações digestivas como a parada da ruminação e a produção constante de gases leva ao quadro de timpanismo. Com o tempo, a tendência é que a rigidez dos membros desapareça, resultando em membros flácidos com extremidades frias. Caso não haja tratamento, os animais podem vir a óbito por parada da circulação sanguínea (choque circulatório). A taxa de morbidade varia entre 3 e 8% em vacas adultas susceptíveis, podendo chegar a cerca de 30% em vacas de alto risco. A mortalidade pode chegar a mais de 35%.
PREVENÇÃO
A prevenção é importante, pois a febre do leite traz prejuízos ao produtor. Além de reduzir a produção de leite, ainda reduz vida útil das vacas em três a quatro anos.
Portanto, para prevenir essa enfermidade, é necessário ter uma dieta adequada para cada situação. É comum a aplicação de dietas com baixo nível de cálcio e com maiores níveis de fósforo ao longo da gestação. Essa estratégia permite estimular a atividade do paratormônio, prevenindo a hipocalcemia. Uma suplementação de cálcio por volta de 2 a 4 dias antes do parto é recomendada também.
A administração de vitamina D na última semana de gestação para animais que apresentam déficit nutricional ou que não possuem exposição à radiação solar é outra recomendação. A indicação consiste no importante papel que a vitamina D exerce para a metabolização do cálcio. Ela estimula a absorção intestinal do cálcio e do fósforo, além de estimular a utilização do mineral presente nos ossos pelo organismo, aumentando as concentrações no sangue.
Outra recomendação que apresenta bons resultados e contribui na prevenção é a administração subcutânea de cálcio imediatamente após o parto. Nos dois primeiros meses de lactação pode-se suplementar na dosagem de 2,7 a 3,4 gramas do mineral por quilo de leite produzido. Além disso, é fundamental reduzir o estresse das vacas no ambiente através das boas práticas de manejo e bem-estar.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito através do histórico, dos sinais clínicos e através da resposta positiva ao tratamento com cálcio.
TRATAMENTO
O tratamento é feito com a reposição imediata de cálcio no organismo, de forma intravenosa ou subcutânea. Caso a forma intravenosa seja eleita para o tratamento, são necessários alguns cuidados: a solução deve ser aquecida a temperatura corpórea e a administração deve ser fracionada e lenta, pois o seu excesso no sangue também pode causar riscos ao animal. É importante destacar que o tratamento subcutâneo é inadequado para vacas caídas devido à velocidade de absorção reduzida no caso de um prejuízo circulatório. Após a administração, é comum que o animal apresente melhora rápida.
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Referências:
LUCCI, C.S. Nutrição e manejo de bovinos leiteiros. São Paulo: Editora Manole, 1997.
OLIVEIRA, V. M; AROEIRA, L. J. M; SILVA, M. C. EMBRAPA – Comunicado Técnico 49: Como prevenir a “febre do leite” em vacas leiteiras. Juiz de Fora – MG, 2006.
REBHUN, W. C; GUARD, C; RICHARDS, C. M; Doenças do Gado Leiteiro. São Paulo: Editora Roca, 2000.
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